Apesar dos inúmeros caminhos sugeridos para a educação básica brasileira, o consenso que emerge entre educadores, pais e estudantes é único: o sistema educacional do país está em crise.
Os resultados do Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) de 2020 revelam que apenas os anos iniciais do Ensino Fundamental (do 1º ao 5º ano) alcançaram a meta de qualidade nacional estabelecida para 2019.
E o que já era difícil, tornou-se ainda mais complexo em março de 2020, quando cerca de 48 milhões de estudantes deixaram de frequentar presencialmente as escolas.
De um dia para o outro, a educação no Brasil passou a ser mediada pela tecnologia, exigindo das escolas e da equipe pedagógica uma revisão e adequação urgente nos formatos que garantem a aprendizagem assertiva dos estudantes.
A recuperação da defasagem do aprendizado na pandemia soma-se a diversos esforços que os educadores empregam diariamente dentro das escolas, da educação infantil ao ensino médio.
"Nossas escolas, nossos professores e metodologia de ensino nunca mais serão os mesmos, pois uma vez que a mente se expande ela nunca mais volta ao seu estado anterior. Foi visto que é possível criar formas de trabalho, ampliar o uso das ferramentas tecnológicas e os professores se descobriram capazes de intervir na comunidade escolar”, pontua a mentora para gestores escolares Ana Paula Freiberger.
Dentre tantos desafios da educação brasileira, listamos os cinco principais:
- Acesso à escola e o processo de aprendizagem
- Modelo distorcido de formação de docentes
- Falta de investimentos generalizados e inovação
- Desinteresse por parte dos alunos
- Participação das famílias na vida escolar
Confira abaixo mais detalhes desses 5 desafios da educação básica e ações que podem ajudar a solucioná-los.
1. Acesso à escola e o processo de aprendizagem
Segundo a coordenadora pedagógica Sarah Larissa Magrini Alves Soares, o ensino básico tem o desafio de conseguir alcançar a todos, principalmente os que não possuem estrutura física e familiar para continuação da aprendizagem.
“Onde estão os nossos alunos que não estão na escola? Para quem os perdemos durante a pandemia? Como conseguiremos resgatar o sentido e interesse pela escola? A educação básica, antes da pandemia, já sofria um enfraquecimento. Agora, mais do que nunca, precisamos arregaçar as mangas e conseguir transformar nossa educação”, ressalta Sarah.
Prevista para 2010, a meta inicial do PNE (Plano Nacional de Educação) era que crianças de 0 a 3 anos de idade deviam ter acesso à creche e escolas. Sem ter sido atingida, foi postergada para 2020.
O déficit é tão grande que apenas 23,5% das crianças estão matriculadas nas creches. Entretanto, a solução não é apenas aumentar o número de vagas, mas garantir que haja qualidade no ensino.
A coordenadora pedagógica Sarah Soares acredita que é preciso conceber e desenvolver uma nova construção social da aprendizagem.
“É ressignificar o sentido da educação para nossas crianças e jovens, e conseguir, através dela, promover uma mudança de vida e transformação social”, exemplifica Sarah.
Por isso, outro grande desafio da educação pós-pandemia é a organização do processo de ensino e da aprendizagem. É preciso garantir uma sequência lógica, coerente e adequada ao ritmo da mistura dos alunos de cada ciclo.
“As atividades presenciais e as atividades online precisam garantir uma complementaridade e estarem adequadas às diferentes realidades dos educandos do nosso país”, destaca.
2. Modelo distorcido de formação de docentes
No Brasil, um agravante é que o professor aprende a dar aula e trabalhar com um modelo específico de aluno, considerado o ideal, longe da realidade heterogênea e diversificada tanto cultural, quanto social e econômica que estamos inseridos.
Criação de institutos dedicados à formação de professores, programas de educação continuada, avaliação constante do aprendizado e um novo currículo dos docentes estão entre os caminhos para reverter este modelo distorcido atualmente empregado.
Diferente das necessidades da década passada, a educação de hoje enfrenta outros desafios e é papel da gestão também preparar sua equipe para atuar com essas questões.
3. Falta de investimentos para inovação
De acordo com a coordenadora pedagógica Sarah Larissa Magrini Alves Soares, o momento pede por inovação, no sentido mais amplo da palavra.
“Inovação é tudo que é inédito, que é novo e que, de algum modo, promove melhoria, qualidade, benefício e utilidade. Não é inovação dar um notebook para cada aluno, não é inovação substituir o quadro por uma lousa digital. Não é inovação passar de ano para ciclo e de ciclo para ano... não é inovação melhorar as aulas”, pontua.
Por isso, o desafio da inovação na escola passa por investimentos em estrutura e tecnologia, mas não só isso: é necessário pensar na forma da aprendizagem e capacitar a equipe para alcançar a inovação.
4. Desinteresse por parte dos alunos
Na visão da mentora para gestores escolares Ana Paula Freiberger, é preciso criar um “movimento de guerrilha” para atacar o descaso, a falta de comprometimento e a desmotivação por parte dos alunos.
Isso também perpassa pela necessidade de rever os processos de aprendizagem dentro da escola e trabalhar pelo protagonismo dos alunos. Isso não só é importante para a formação de cidadãos mais conscientes e de uma escola e sociedade mais democráticas, como é prevista na BNCC (Base Nacional Comum Curricular).
"Ressalto a importância de uma personalização e individualização do processo de ensino e aprendizagem. Utilizar de itinerários ou percursos formativos por alunos pode facilitar o acompanhamento e avaliação do professor sobre as aprendizagens alcançadas", diz a pedagoga Sarah Soares.
5. Participação das famílias na vida escolar
Outro desafio latente na educação é a parceria entre família e escola. Estudos comprovam que o nível de envolvimento das famílias nos estudos tem total impacto no comportamento dos alunos em sala de aula.
O trabalho de conscientização sobre a importância dessa parceria é fundamental. A maioria dos pais não tem noção do peso que têm no comportamento dos filhos. Alguns acham que é suficiente só os colocarem em uma boa escola.
Mas, na prática, o envolvimento das famílias com a escola é imprescindível, cada vez mais, para a construção de valores das crianças e adolescentes.
Nem sempre a escola tem o controle sobre o quanto os pais vão participar, mas ela pode e deve estimular este participação ativa.
Isso começa com uma comunicação escolar bem trabalhada, que permite que as famílias fiquem cientes de tudo que acontece na escola e se sintam convidadas a participar da rotina escolar.
Fonte: ClassApp