sexta-feira, 1 de setembro de 2023

Por que achamos as comidas menos saudáveis mais gostosas?

Você já parou para pensar que se as comidas saudáveis fossem “mais gostosas” talvez todo mundo fosse mais saudável? Mas e se eu disser que o problema não está na comida e sim em como nós entendemos ela e os prazeres que queremos proporcionar ao nosso corpo? Sim, os vilões não são as comidas e sim nosso entendimento delas. 

A busca pelo prazer e sabor nas refeições é algo inerente ao ser humano, e muitas vezes encontramos esse prazer em comidas menos saudáveis. A nutricionista Ingrid Krichinak nos esclarece que a palatabilidade dos alimentos está relacionada às gorduras e açúcares presentes neles, tornando-os mais saborosos e, consequentemente, mais calóricos e menos saudáveis.

Hábitos que vem de família

Desde a infância, nossos hábitos alimentares e costumes familiares influenciam nossas preferências por sabores mais gordurosos e doces. Além disso, a correria do dia a dia e uma alimentação desorganizada podem levar a longos períodos sem comer, resultando em baixa energia no corpo. Nesses momentos, buscamos recompensa rápida e prazerosa, e é aí que recorremos a comidas hiper palatáveis, geralmente ricas em gorduras e açúcares, como bolachas, salgadinhos e outras comidas industrializadas.

As 3 fases do prazer que a comida proporciona

Essa busca por alimentos que nos proporcionem prazer imediato está ligada à maneira como nosso cérebro funciona. De acordo com a neurociência, ao longo do dia um adulto toma em média 35 mil pequenas decisões e tendemos a optar pelo caminho mais fácil, buscando recompensas instantâneas. Com o estresse e a influência constante das redes sociais, nosso senso de prazer e recompensa pode ficar desequilibrado, favorecendo escolhas alimentares menos saudáveis.

Quando comemos algo delicioso, liberamos o neurotransmissor dopamina, responsável pelas sensações de prazer e recompensa. Essa liberação ocorre em três fases: primeiro, só de pensar no alimento, já liberamos dopamina (esse processo é chamado de "liking"); em seguida, a sensação de prazer nos motiva a buscar a recompensa de comer algo gostoso ("wanting"); por fim, nosso cérebro registra a experiência positiva, condicionando nosso corpo a repetir esse comportamento ("learning").

Mas como resolver esse dilema entre prazer imediato e uma alimentação mais saudável?

Ingrid sugere a adaptação gradual do paladar, reduzindo o consumo de açúcar, sal e gordura. Construir novos hábitos é fundamental, mas pode ser desafiador nos primeiros dias, quando nosso equilíbrio de dopamina e prazer ainda está se ajustando. No entanto, com o tempo, é possível sentir mais prazer ao comer saladas, legumes e refeições saudáveis.

Outra estratégia é modular o ambiente alimentar, como ter refeições saudáveis prontas em casa, diminuindo o esforço da tomada de decisão na hora das refeições. Assim, é possível tornar a alimentação saudável mais prazerosa e atrativa.

“Organizar minha alimentação da semana também é prazeroso, no final isso também vai te dar prazer, mas no momento da refeição talvez não seja tão bom quanto comer uma batata frita e um hambúrguer”, explica a nutricionista. 

Portanto, entender os mecanismos por trás da preferência por comidas menos saudáveis nos permite tomar decisões conscientes e buscar um equilíbrio entre prazer imediato e a satisfação a longo prazo que uma alimentação saudável pode proporcionar. É possível transformar o paladar, desenvolver hábitos alimentares mais saudáveis e desfrutar do prazer genuíno em uma alimentação equilibrada.


Fonte: Terra.