Silenciosa, perigosa e sem cura, a hipertensão arterial, popularmente conhecida como pressão alta, tem matado mais brasileiros hoje do que há uma década. Em dez anos, quase 300 mil pessoas perderam a vida para a doença, que tem tratamento.
Em 2011, foram 23.233 mortes por
hipertensão. Em 2021, esse número subiu para 39.964, o que representa um
aumento de 72%.
Os dados são do Sistema de
Informações sobre Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde e levam em conta o
que está escrito na declaração de óbito.
Especialistas afirmam, porém, que os números podem ser ainda maiores: 600 mil mortes causadas por hipertensão ao longo de uma década.
Isso porque a hipertensão costuma ser mais fatal quando atinge órgãos essenciais para o funcionamento do corpo humano, como coração e cérebro.Além disso, é o principal fator
de risco para doenças cardiovasculares, doenças renais crônicas e morte
prematura, estando diretamente ligada a casos de infarto e acidente vascular
cerebral (AVC).
Entenda abaixo duas razões que
explicam o aumento das mortes por hipertensão:
1 - Pacientes não levam pressão
alta a sério
A hipertensão desafia médicos e
pacientes por conta do seu caráter silencioso: em 90% dos casos, não há
manifestação de nenhum sintoma.
A única forma de descobrir a
doença é medindo a pressão arterial, com aquele clássico aparelho que aperta
levemente o braço por alguns segundos.
Apesar de ser bastante perigosa e
responsável por grande parte das mortes prematuras no país (entre 30 e 69
anos), a hipertensão não é levada a sério como deveria pela maioria das
pessoas.
Segundo Bortolotto, que é
presidente da Sociedade Brasileira de Hipertensão (SBH), o paciente com
hipertensão só consegue sentir a doença quando chegam as complicações. "Aí
a pessoa fica mais atenta", afirma.
2 - Piora no estilo de vida do
brasileiro
Mas não é só por isso que
acontece um "boom" da pressão alta no país: o principal ponto de
preocupação está em uma piora no estilo de vida do brasileiro nos últimos anos.
Sedentarismo, má alimentação,
excesso de sal, sobrepeso e obesidade são algumas das causas apontadas pelos
especialistas para aumento nos números. Há também o fator genético, já que a
hipertensão pode ser "herdada" da família em até 50% dos casos.
Na última década, a taxa de
mortalidade atingiu o maior valor em 10 anos: foram 18,7 óbitos para 100 mil
habitantes em 2021, contra 11,8 em 2011.
As taxas de hipertensão diminuíram nos países ricos e aumentaram em muitos países de baixa ou média renda entre 1990 e 2019, de acordo com um estudo da OMS e da Imperial College London, publicado em 2021 na Revista Lancet.
"A hipertensão tem uma
relação forte com o estilo de vida que a gente tem, principalmente nos grandes
centros urbanos, onde você não tem muito tempo para uma alimentação mais
adequada, e aí tem uma chance maior de ter excesso de gordura, de carboidrato e
de sal nos produtos consumidos", diz a cardiologista Andréa Brandão.
"Se não tivermos
proatividade nesse contexto, a hipertensão vai continuar sendo um das grandes
líderes de mortalidade em todos os lugares, incluindo no nosso país",
afirma o cardiologista Luciano Drager.
Fonte: G1