sexta-feira, 9 de fevereiro de 2024

"Chiclete" de 9,7 mil anos revela dieta de adolescentes da Idade da Pedra.

Pesquisadores conduziram uma nova análise em um "chiclete" mastigado por adolescentes há cerca de 9,7 mil anos, na Idade da Pedra. A resina mastigada estava junto de restos de ferramentas de pedra no sítio arqueológico de Huseby Klev na ilha sueca de Orust, que foi escavado há 30 anos.

Um estudo sobre o achado foi registrado no último dia 18 de janeiro na revista Scientific Reports. Uma equipe internacional de pesquisadores identificou diferentes elementos presentes na mistura de DNA de três pedaços da "goma de mascar" mesolítica.

O material mastigado de Huseby Klev já havia gerado um estudo anterior sobre os dados genéticos humanos de três indivíduos, publicado em 2019. A pesquisa mostrou uma afinidade das pessoas que mascaram o "chiclete" com os caçadores-coletores escandinavos.

O novo estudo revela agora a dieta desses indivíduos. A nova análise sugere que os jovens mastigaram resina para produzir cola logo após se alimentarem de truta e veado, assim como de avelãs.

Os adolescentes faziam parte de um grupo de pessoas que acampava na costa oeste da Escandinávia, ao norte do que é hoje Göteborg. Uma garota do grupo tinha problemas bucais: os cientistas acreditam que ela sofria de periodontite, uma infecção grave nas gengivas que pode levar à perda de dentes e ossos. Isso fazia com que a jovem tivesse dificuldades para comer carne de veado, bem como para mastigar a resina.

"Há uma riqueza de sequências de DNA na goma mastigada de Huseby-Klev, e nela encontramos tanto as bactérias que sabemos estar relacionadas à periodontite quanto DNA de plantas e animais que eles [os jovens] tinham mastigado anteriormente", diz o coordenador do trabalho, Emrah Kırdök, do Departamento de Biotecnologia da Universidade de Mersin, na Turquia, em comunicado.

Kırdök começou a analisar o material da resina quando era pós-doutorando no Departamento de Arqueologia e Estudos Clássicos da Universidade de Estocolmo, na Suécia; mas o estudo cresceu muito desde então.

Para analisar dados sobre o "chiclete", o pesquisador se uniu a Andrés Aravena, do Departamento de Biologia Molecular e Genética da Universidade de Istambul. "Tivemos que aplicar várias ferramentas analíticas computacionais pesadas para distinguir os diferentes organismos e espécies", conta Aravena. "Todas as ferramentas de que precisávamos não estavam prontas para serem aplicadas ao DNA antigo; grande parte do nosso tempo foi gasto ajustando-as para que pudéssemos aplicá-las."

Os cientistas compararam os dados de patógenos orais identificados na goma com conjuntos de informações sobre microbiomas saudáveis ​​e disbióticos (com desequilíbrio da flora intestinal). Com isso, eles notaram um aumento na abundância de micróbios associados à periodontite.

Além disso, modelos treinados de aprendizado de máquina previram desequilíbrio da flora do intestino dos adolescentes com 70 a 80% de probabilidade. A equipe também encontrou nas amostras do "chiclete" sequências de DNA de espécies eucarióticas, como raposa-vermelha, avelã, veado-vermelho e maçã.

Conforme considera Anders Götherström, pesquisador do Centro de Paleogenética de Estocolmo e coautor do estudo, a pesquisa fornece "um instantâneo da vida de um pequeno grupo de caçadores-coletores na costa oeste escandinava".

"Nossos resultados indicam um caso de saúde bucal precária durante o Mesolítico Escandinavo e mostram que as peças de resina têm o potencial de fornecer informações sobre o uso de materiais, dieta e saúde bucal", concluíram os pesquisadores.


Fonte: Olhar Digital.