sexta-feira, 3 de maio de 2024

Jejum intermitente não é a opção ideal para redução de peso, constata estudo.

Reduzir a quantidade de calorias ingeridas pode ser mais eficaz de que jejuar, segundo um estudo da Universidade de Johns Hopkins, nos Estados Unidos, publicado na revista Annals of Internal Medicine. O jejum intermitente — agora mais conhecido como alimentação com restrição de tempo (TRE, sigla em inglês) — faz sucesso há pelo menos uma década, especialmente após famosos como Deborah Secco, Sabrina Sato e Jennifer Aniston se tornarem porta-vozes da intervenção alimentar nas redes sociais. Porém, algumas pesquisas questionam a superioridade dos resultados em relação a outros métodos para perda de gordura corporal.

Esse é o caso do estudo, apresentado no Encontro de Medicina Interna do Colégio Norte-Americano de Médicos. Os autores não questionam o sucesso da intervenção — que tem mostrado bons resultados no emagrecimento e na melhora dos níveis de glicose no organismo. Porém, eles afirmam, com base nos resultados da pesquisa, que a perda de peso em adultos com obesidade e pré-diabetes ocorre quando se restringe a quantidade de calorias, independentemente da hora em que elas são consumidas.

A alimentação com restrição de tempo (TRE) é uma abordagem dietética em que os pacientes limitam sua alimentação a uma janela de tempo durante o dia e depois jejuam pelas horas restantes. Nos horários em que podem comer, não é necessário contar calorias nem monitorar a ingestão de alimentos. Mas, em determinados períodos, somente água e bebidas "zero" são permitidas.

Nisa Maruthur, professora da Faculdade de Medicina da Universidade de Johns Hopkins Medicine e autora do estudo, conta que, segundo as evidências científicas, quando adultos com obesidade limitam a sua janela de alimentação entre quatro e 10 horas, há uma redução natural da ingestão calórica de 200 a 500 calorias por dia, com consequente perda de peso. "Não se sabe se a TRE induz o emagrecimento independentemente da redução de calorias, como observado em estudos com roedores", diz.

Para responder à questão, os pesquisadores dividiram aleatoriamente 41 adultos com obesidade e pré-diabetes em dois grupos: TRE com uma janela alimentar de 10 horas ou dieta sem restrição de tempo, por 12 semanas. O objetivo era comparar a perda de peso e taxas metabólicas. No início do estudo, foram avaliados o histórico e o nível de atividade física de cada participante para estimar suas necessidades energéticas.

A quantidade de calorias ingeridas individualmente, por dia, foi a mesma durante os três meses. Além disso, independentemente do grupo em que os pacientes estavam inseridos, as refeições foram preparadas com composições idênticas de macronutrientes e micronutrientes e instruções sobre quando consumir os alimentos.

Parâmetros

O grupo de TRE foi instruído a comer apenas entre 8h e 18h e ingerir a maioria de suas calorias antes das 13h, todos os dias. Já os pacientes do padrão habitual era alimentado entre 8h e 0h, comendo a maior parte depois das 17h. Passadas 12 semanas, todos perderam aproximadamente a mesma quantidade de peso (2,6kg entre os que jejuaram, e 2,3kg nos demais). Além disso, não houve diferença na taxa de glicemia em jejum, na medida da circunferência arterial, nos níveis lipídicos e na pressão arterial.

Segundo os autores, os resultados sugerem que, quando intervenções TRE resultam na perda de peso, provavelmente isso ocorre devido à redução nas calorias, e não no horário em que são consumidas. Maruthur observa que o estudo foi pequeno, mas enfatiza que nada indicou, na pesquisa, um benefício adicional do jejum para perda de peso e outros parâmetros investigados.

O estudo recém-publicado vai ao encontro de uma pesquisa da Associação Norte-Americana do Coração, de 2023, que acompanhou por seis anos 550 adultos que registraram em um aplicativo específico, o Daily24, os horários de dormir, comer e acordar em cada janela de 24 horas, em tempo real. Os voluntários também detalharam o tipo e a quantidade de alimentos consumidos.

"A descoberta de que a alimentação com restrição de tempo (TRE) não resulta em mais perda de peso do que o esperado pela redução nas calorias ingeridas não deveria surpreender ninguém. Se a alimentação com restrição de tempo tivesse um efeito sobre o peso corporal para além da restrição calórica, isso implicaria que 'aumenta o metabolismo', ação sobre a qual não há a menor evidência em humanos. Isso não quer dizer que comer com restrição de tempo não seja uma boa maneira de perder peso: ajuda claramente algumas pessoas a reduzir a ingestão de calorias. Mas este estudo mostra que não existe efeito 'mágico', Keith Frayn, professor de metabolismo humano na Universidade de Oxford, na Inglaterra.


Fonte: Correio Braziliense.