De acordo com uma pesquisa realizada pela Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), em parceria com o Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde (Nupens) da Faculdade de Saúde Pública (FSP) da USP, 98,8% dos ultraprocessados analisados encontrados nos comércios brasileiros contêm sódio, gorduras e açúcares livres em excesso. Com esse dado, pode-se dizer que o impacto deles no corpo humano não é dos melhores. Mas o que pouco se fala é do impacto de sua produção no meio ambiente.
“Apesar de ainda estarem em estágio inicial, os estudos acerca do impacto ambiental dos alimentos ultraprocessados, realizados principalmente em países de alta renda, demonstram relações entre a produção e consumo desses produtos e a perda de biodiversidade“, diz Fernanda Marrocos, pesquisadora da Cátedra Josué de Castro de Sistemas Alimentares Saudáveis e Sustentáveis da FSP e do Nupens.
O plástico e o transporte
Em 2022, o Brasil gerou 13,7
milhões de toneladas de plástico, segundo uma pesquisa da Associação Brasileira
de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe). Essa quantidade
corresponde a quase 64 quilos de plástico por brasileiro.
Esses resíduos também estão
relacionados com os ultraprocessados, sobretudo na embalagem desses produtos.
“O fato de os alimentos ultraprocessados terem como uma de suas características
principais uma longa vida de prateleira faz com que eles dependam amplamente do
uso de embalagens elaboradas a partir de diferentes tipos de materiais que
serão, posteriormente, descartadas no meio ambiente”, explica a pesquisadora.
Segundo o relatório publicado
pela Talking Trash em 2020, dentre os maiores poluidores apontados no documento
estão as transnacionais de bebidas açucaradas, incluindo os líderes de venda de
refrigerantes. “Por isso, o consumo excessivo desses produtos, estimulado por
propagandas e por suas características de sabor e textura, implica um volume
grande de resíduos gerados a partir do descarte das embalagens utilizadas na
produção e em sua distribuição”, ressalta.
O transporte também não fica de
fora. O gasto de energia nas diversas fases da cadeia produtiva é alto e
complexo. “Isso é principalmente devido ao fato de serem submetidos a etapas
adicionais de processamento industrial ou ultraprocessamento e de percorrerem
longas distâncias — desde sua produção até as redes de distribuição e consumo”,
comenta Fernanda.
Fonte: Jornal da USP